segunda-feira, 29 de setembro de 2008

Crítica: Alto Falante comenta "DOYS"

Acredito que está crítica esteja bem estruturada e sem pré-conceitos, algo que é de costume se tratando de Oasis.

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Ah, a maturidade…..Nesta semana escrevi uma coluna sobre os três astros do pop oitentista que chegaram aos cinquenta anos de idade com dignidade. Uns mais do que os outros, diga-se de passagem. Pois não há como ouvir o novo disco do Oasis sem pensar no significado da palavra “maturidade”. Inevitável para todos, rejeitada por uma minoria, quando a idade chega não há muito o que fazer senão aceitá-la. E parece que é este o caminho escolhido pelo Oasis para este “Dig Out Your Soul”: fazer música que condiz com sua condição. Chega das bobagens de outros tempos! Vamos trabalhar com esmero, paciência e serenidade.Noel Gallagher já chegou aos 40 anos de idade. Seu irmão mais novo, Liam, acaba de completar 36. Não que ambos estejam velhos, mas a rebeldia da juventude definitivamente ficou para trás. Qualquer movimento neste sentido nos dias de hoje soa falso. Por isto mesmo, “Dig Out Your Soul” foge da mesmice. Ao tentar se reinventar e deixar definitivamente o passado de confusões para trás, a banda também se reinventa musicalmente. Tudo bem, ninguém quer que eles abandonem o rótulo de “plagiadores de Beatles” ou “chupadores de acordes do The Who”, mesmo porque eles fazem questão de deixar claro nas entrelinhas que o são (ouçam o final de “The Turning” que vocês entenderão). Acontece que, se em “Don’t Believe The Truth”, seu disco anterior, as referências eram evidentes e marcantes, agora elas estão apenas incrustadas em meio às ótimas canções compostas pela banda, agora sim uma Banda, com participação de todos ativamente. Só o fato de isto ter acontecido e o Oasis não mais ser um grupo centrado nos irmãos Gallagher, já é um sinal de que as coisas andam mudando lá pelas bandas de Manchester.E tome vocais mais contidos, melódicos e diferenciados de Liam Gallagher, o melhor não-cantor do rock, no sentido de não ter uma voz potente mas saber colocá-la da maneira correta. Tome climas quase etéreos, como na introdução da já citada “The Turning”. Tome um belo primeiro single (“The Shock of the Lightning”) com um riff marcante, digno dos bons momentos oasisianos. Tome uma bela balada (“I’m Outta Time” ) composta por Liam e anos-luz à frente de outras coisas que ele já fez. Na sequência, “(Get Off Your) High Horse Lady” tem voz saturada, como se estivesse saindo de um telefone e um ritmo marcado por palmas. “Falling Down” começa com um “one-two-three-four” quase inaudível e baixa a adrenalina com um ritmo tribal, lembrando a batida de “Tomorrow Never Knows” (olha a referência aí!). “To Be Where There’s Life” incorpora cítaras ao som da banda e surpreende. “Ain’t Got Nothing” deixa a peteca cair um pouco, exatamente porque soa mais do mesmo. É o único escorregão do disco. “The Nature of Reality” faz com que o Oasis soe como uma banda de garagem, num ritmo blues eletrificado. Já a faixa que encerra “Dig Out Your Soul”, “Soldier On”, faz jus a seu nome, com uma batida quase military, embalada por um piano elétrico e um eco discreto na voz de Liam, que tenta soar como…John Lennon.Vale lembrar que o disco foi gravado em Abbey Road, depois de um longo período em que a banda esteve banida dos estúdios por “tocar o terror”. Talvez contaminada pelo espírito que reina no local, a banda pariu um disco digno e à altura da serenidade e musicalidade que eles merecem e conseguem proporcionar ao público. E é sempre bom ver uma banda como o Oasis voltar à forma.

Rodrigo James
Nota 4/5

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